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domingo, 26 de junho de 2011

Deby [cap.7]

Depois de acordar, Deby se arrumou e saiu em procura de um emprego. Lala ficou dormindo até umas 10 horas da manhã.


Areias era um lugar muito pacato. Porém, como era uma cidade pequena, as fofocas comem soltas. sempre tem alguma novidade.


Sob o sol de Dezembro, Deby foi andando até uma loja de cosméticos. Chegou lá e foi direto ao balcão da loja. A moça com permanente no cabelo foi atendê-la.
- Posso ajudar?
- Pode. Eu queria saber se tem uma vaga aí pra mim  - perguntou Deby - sabe do dono ou da dona da loja, colega?
- Tá faltando caixa - respondeu a moça - vou ligar pra dona Vanusa. 


"Lady" Vanusa era a dona da loja. Tinha 38 anos e era vaidosa até onde não podia. Era a pessoa mais rica de Areias - seu marido tinha três lojas de cosmética: duas médias e uma grande e chique, localizada numa galeria da rua Roque Vieira. Vanusa era conhecida na cidade não só por sua vaidade e pelos negócios do marido, mas também por ser metida e tratava todos com maldade e orgulho; Só gostava dos filhos. Ela sempre se apresentava como Lady Vanusa.


A moça foi para dentro da loja, ligou para Lady Vanusa e logo retornou ao balcão.
- Estás contratada - disse a moça, aos risos - meu nome é Gerusa. Vou pegar teu uniforme e tu se veste no banheiro, segunda porta à esquerda.
- Obrigada, de coração! Mas quando é que a tal Vanusa vem assinar minha carteira?
- Amanhã é dia dela aparecer por aqui. Acho que tu vais ganhar um salário mínimo igual a mim.


A esta altura já era meio-dia. Deby pôs seu uniforme e assumiu a caixa registradora. Pelo resto do dia, passaram uns 15 fregueses na loja. Deby atendeu todos direitinho, estava feliz e bem-humorada por ter arrumado emprego assim tão fácil. 


Às seis da tarde, ela foi pro hotel. Deu de cara com Lala, que estava toda saltitante esperando Deby chegar para dar uma boa notícia:
- Achei uma casinha pra gente alugar! É pequena, mas boa, limpinha, arrumadinha, ajeitadinha mermo. O aluguel é 80 conto por mês.
- Massa! E quando a gente muda pra lá?
- Esse fim de semana. A casa já tá mobiliada, só precisa de uma faxinazinha. Eu pedi pra faxineira do hotel dar uma geral lá na quinta-feira, ela cobrou barato. Depois, é só morar lá. É tudo, né?


Deby concordou com a amiga. Depois da janta(misto com coca-cola), foram deitar. Lala estava exausta, tinha andado o dia inteiro à procura de casa pra alugar, e no dia seguinte ainda tinha que sair pra procurar trabalho. Deby deitou, mas não dormiu de cara. Ficou ainda uma meia hora pensando em toda a sua vida: A infância feliz em Pirilópolis do Sul, vendo os Cavaleiros do Zodíaco na TV, tomando sorvete na pracinha e andando de bicicleta. A adolescência, de ir no cinema, se apaixonar por Apoleôncio, ver "Confissões de Adolescente" na TV e se identificar com as personagens, ficar horas pendurada no telefone com as amigas...


Ela sentia muitas saudades desse tempo, mas sabia que era passado. Porém, de vez em quando, ela sentia um remorso por ter mudado o rumo de sua vida desde o fatídico dia em que faltou aula e furtou pela primeira vez. E sentia saudades de casa, pois não via sua família há dois anos. E então, ela tomou uma decisão: logo que juntasse dinheiro, ela retornaria a Pirilópolis do Sul para ficar perto da família.


Os dias foram passando, passando...Até que completaram 5 meses desde a chegada de Deby a Areias. As meninas juntaram uma grana e compraram a casa que estavam alugando, e Lala estava indo bem no seu emprego como secretária na prefeitura. Deby foi promovida a gerente da loja. Então, tudo parecia ir bem, até que Gerusa, a colega de Deby, resolveu pegar um "dinheiro emprestado" da caixa registradora da loja. Mas ela se esqueceu que no dia seguinte tinha revista da Lady Vanusa na loja...


Todo fim de dia Deby tinha que ligar para Lady Vanusa para informar a quantidade de clientes que passaram na loja no dia e a quantidade de dinheiro na caixa registradora, que era fechada com uma chave, e só Deby tinha a chave. Mas num momento que ela tinha ido ao banco, ao fim do expediente, Gerusa catou a chave na gaveta do balcão e pegou todo o dinheiro do caixa. Quando Deby retornou à loja, Gerusa tinha sumido...E o dinheiro também. E às sete, Lady Vanusa iria fazer a revista semanal! Deby não sabia o que fazer e decidiu esperar e contar a verdade.


Às sete e cinco, Lady Vanusa desceu de seu exclusivíssimo Vectra dourado. Estava chique, vestida com umas roupas que comprou na Daslu e com um celular na mão(vale lembrar que, em 1998, celular era artigo de luxo no Brasil e não tinha tanta gente usando como hoje em dia). Caminhou até a loja e cumprimentou Deby:
- Boa noite, Débora.
- Boa noite, D. Vanusa. 
- Onde está Gerusa? Cadê aquela incompetente? - disse Lady Vanusa, deixando a elegância que exalava um poquinho de lado. - Ela fugiu, por acaso? Deixa pra lá, descontarei do salário dela o tempo que ela não está aqui. Vou conferir a caixa.


A espinha de Deby gelou. Ela começou a suar frio. Lady Vanusa abriu a caixa e deu um pulo pra trás quando viu a mesma vazia.
- QUEM ROUBOU DA CAIXA? - dessa vez, Lady Vanusa desceu do salto - FOI VOCÊ, DEBY? ME DEVOLVE O DINHEIRO, SUA PIRANHA!
- EU NÃO SOU PIRANHA! Eu acho que foi a Gerusa, que outro motivo ela teria pra fugir?
- A Gerusa trabalha aqui desde que a loja abriu. Você não acha que, se ela quisesse roubar, ela já teria roubado? - disse Lady Vanusa, com o sorriso mais cínico e diagonal que Deby já vira - Portanto, pare de acusar a Gerusa. Tá demitida.
- Ok, eu não trabalho para peruas escrotas que nem tu.


Nesse momento, Vanusa partiu pra cima de Deby.
- Vou fazer você engolir o que disse, sua mocréia depenada!
- Posso ser mocréia, mas eu não vivo às custas do marido rico. Eu ganho meu próprio salário, sou independente e tenho dignidade.


Enquanto Lady Vanusa avançava nos cabelos de Deby, a moça pegou uma faca que estava em uma das estantes e esfaqueou a socialite. Sorte a de Deby, pois a loja estava com as portas fechadas, e ninguém ouviu nada, pois a cidade toda estava agrupada na praça central, onde estava acontecendo um show de forró.


Quando Deby teve certeza de que Vanusa estava sem pulso, foi ao banheiro da loja, se limpou e foi pra casa, não sem antes pegar o dinheiro, a bolsa e as jóias de Vanusa. 


A moça chegou em casa, ainda assustada. Lala estava no sofá da sala, vendo novela.
- Oi - cumprimentou Lala - Eu cheguei mais cedo hoje. Porquê tu tás branca e tremelicando assim?
- Pega suas coisas, faz a mala, pega o dinheiro que tens, faz uns sanduíches, pois a gente vai ter que sumir.
- O que tu fez?
- Matei minha patroa.
- Só isso?
- Como assim "só isso"? Eu aqui, fudida e tu diz "só isso"???
- Ai, ok. Vou preparar os sandubas.


Depois de tudo pronto, Deby comentou com Lala:
- Amanhã é sexta, portanto, a loja não abre. Temos 24 horas pra arranjar alguém que compre esta casa mobiliada.
- Eu fiquei sabendo que o filho da Neide casou...Ele só tá procurando a casa.
- Maravilha! Tens o telefone da Neide?
- Tenho.


Deby ligou para Neide, que ficou alegre com a notícia. Logo, ela contou pro filho, que por sua vez perguntou quando ele e a esposa poderiam mudar pra casa.
- Hoje mesmo! - disse Deby - Tudo mobiliado e limpinho, só trazer as malas.
- Obrigado, Débora! Nem sei como agradecer...
- Ah, que é isso...É só me pagar quando chegar aqui.


Tudo certo. Em uma hora e meia, o filho da Neide já estava na porta de casa com a esposa. Os dois pagaram à vista, e então, Deby e Lala foram pra rodoviária.


Dessa vez, elas iriam para Santo Antônio do Quixeramobim, cidade no norte do Maranhão. Dizem que era uma cidade grande e desenvolvida, porém muito longe de Areias, Beladona e mais longe ainda de Pirilópolis do Sul.


Pegaram o ônibus. Seriam 3 dias de viagem. Três longos dias...


****Como será o final dessa história? Aguarde o último capítulo de Deby!

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